Querida colega engenheira, primeiramente parabéns pela conclusão do seu bacharelado em Engenharia Química.
Sou egresso da engenharia elétrica dos tempos de um processo de sucateamento das universidades públicas capitaneada pelo Paulo Renato (ministro da educação) e FHC (então presidente).
Quem passa pelo Centro de Tecnologia tem sua vida completamente marcada pelos históricos problemas de infraestruturas e do comportamento de alguns #PHDeuses no pólo negativo e pelas inúmeras oportunidades e ensinamentos à disposição dos estudantes no pólo positivo. É uma balança que este (vantagens) ganha fácil e com folga daquele (desvantagens)!
Seus relatos de humilhações e situações (e.g. pressões psicológicas desnecessárias e gratuitas; critério subjetivos de afinidade (só vistos no BBB); desprezo pelos esforços dispensados pelos graduandos extrassala; resultados desproporcionais quanto ao tempo estudado; piadas inoportunas, desconexas e desrespeitosas; problemas físicos e psicológicos desencadeados; dentre outros) são reais e não pretendo minimizá-los com minhas considerações (...) a quem te peço licença para fazê-lo neste momento.
Você pode até ter se formado em torno de 6 (seis) anos e não está ganhando os 10 mil reais do citado fulano, mas seu esforço pessoal corroborada com a prestigiada Universidade Federal do Ceará (UFC) te deram a chance de passar por uma experiência diferenciada com um período de graduação sanduíche na “North Carolina State University”, sob a orientação do Prof. Dr. David K. McNeill.
Os aprendizados e as oportunidades ofuscam as questões negativas, mas não são suficientes para apagar os traumas gerados pelas supracitadas humilhações e situações, por isso, desde idos do fim da década de noventa, eu usava a Ouvidoria da UFC para denunciar, cobrar e acompanhar as ações relatadas e os desfechos/medidas aplicadas contra àqueles que não entendem que estão ali para servir e não ser servidos por nós (refiro-me aos servidores públicos no sentido amplo).
Ressalta-se que a Ouvidoria da UFC tem como objetivo defender os direitos e interesses da Comunidade Universitária e do público externo estabelecendo elos e desburocratizando os trâmites, além de contribuir para a democratização da Universidade e o aperfeiçoamento dos serviços por ela prestados.
Em outras palavras, o silêncio dos estudantes não ajuda a vencer esta batalha contra os desvios de finalidade/comportamento e não mudam o rumo da história da instituição quanto aos elementos do pólo negativa. Sem a efetiva participação da Comunidade Universitária, estas questões relatadas não irão desaparecer e são capazes de se perpetuar mesmo havendo uma renovação dos quadros de pessoal.
Quanto aos problemas de infraestruturas, visitei a universidade nos últimos anos e fiquei impressionado com a qualidade das salas, laboratórios, biblioteca etc. Na minha época, só Jesus na causa, como se diz popularmente.
Refiro-me não somente pela minha experiência pessoal na UFC como aluno das engenharias, mas conhecendo as infraestruturas de outras Instituições de Ensino Superior (IES), inclusive privadas, o qual leciono a mais de uma década e meia (atualmente, sou docente do IFCE.).
Quanto à Biblioteca Universitária da UFC, acessei o inventário de seu patrimônio bibliográfico, exigido pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e houve um crescimento expressivo do acervo nos últimos anos, inclusive com Serviços online/Catálogo online para reservar dos exemplares.
Os estágios e os requisitos exigidos são totalmente vergonhosos como conhecimentos uma lista enorme de ferramentas, técnicas, línguas etc. Este ponto é inquestionável! Não é por acaso que muitos estudantes se dedicam a experiências indoor nos laboratórios.
Não se esqueça também que precisa ser fluente em no mínimo 2 línguas e aceitar estágio que pague só os bombons da cantina, que nem tinha no nosso bloco.
Quanto ao papel higiênico e outros insumos de limpeza, mesmo na minha época de vacas magras, eu iria à coordenação para eles se contratarem com o setor e havia as respectivas reposições. Recordo das alegativas do secretário da coordenação de curso que os servidores não conseguem repor na medida da utilização dos espaços. Destaca-se que os serviços de limpezas foram impactados com o atual governo Temer e houve uma série de demissões!
O ponto referente à segurança é uma questão triste vivida pelas universidades com assaltos nas paradas de transporte público ou pelos espaços dos campi, agressões contra mulheres e LGBTTs, e dentre outras preocupantes incidências.
Eu usava a Cantina Da Tia Jô (que se transformou em outro espaço de alimentação) que era uma cantina no coração do Centro de Tecnologia para os estudantes fazerem suas alimentações. Este espaço fechou? Questiono, pois faz uns dois anos que não ando por aí.
Você fez um questionamento/reflexão se tudo isso valeu a pena (...) respondo-te que SIM, apesar de todos os traumas. Atualmente, você já colhe os frutos desta árdua caminhada na sua vida com a aprovação no MESTRADO EM ENGENHARIA QUÍMICA do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da UFC.
Estas experiências servirão para encorajar os estudantes (atuais e supervenientes) para usar mais os canais de comunicação institucional para reivindicar por seus direitos e por serviços públicos de qualidade. As universidades, os institutos federais e as demais IESs públicas pertencem ao povo e os maus exemplos de educadores não passarão, mas precisa do ativismo estudantil! Calar-se não é a melhor solução.
Por fim, este texto/post é somente para dar um contraponto respeitoso ao vosso relato. Desejo-te boa sorte nos novos desafios acadêmicos e parabéns por suas conquistas com uma formação acadêmica consistente e com uma experiência internacional.
Atenciosamente,
Prof. Ivan Oliveira
