Terça, 04 Fevereiro 2014 17:33

Interrelações entre desenvolvimento sustentável, inovação social, tecnologia social e empreendedorismo coletivo

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O conceito de Desenvolvimento Sustentável é resultado da crescente sensibilização frente aos problemas ambientais e sociais. Ele expressa preocupações com problemas sócio-econômicos como a pobreza e a desigualdade, bem como, preocupações com um futuro saudável para as futuras gerações, o que requer mudanças nos padrões de desenvolvimento. Para alcançar as metas do Desenvolvimento Sustentável, inovação social, tecnologia social e empreendedorismo coletivo, tem sido vistos como alternativas promissoras e viáveis, considerando suas propostas e valores empregados. Assim, este artigo tem como objetivo contribuir no sentido de dar mais visibilidade às interrelações entre o Desenvolvimento Sustentável, inovação social, tecnologia social e empreendedorismo coletivo, cujas perspectivas caminham para a construção de um desenvolvimento mais humano e integrado. Observa-se, a partir da literatura estudada que os objetivos que envolvem inovação social, tecnologia social e empreendedorismo coletivo, são comuns e podem contribuir com a operacionalização do Desenvolvimento Sustentável, pois, buscam promover a satisfação das necessidades humanas, a integração coletiva, preservação ambiental, simultaneamente com desenvolvimento econômico e social, equidade social, geração de emprego e renda.

Palavras-chave: inovação social, empreendedorismo coletivo, desenvolvimento sustentável.

Abstract

The concept of sustainable development is the result of increasing awareness in the face of environmental and social problems. It expresses concerns with social-economic problems such as poverty and inequality, as well as concerns about a healthy future for future generations, which requires changes in development patterns. To achieve the goals of sustainable development, social innovation, social technology and collective entrepreneurship, there has been seen promising and viable alternatives, considering its proposals and if it values ​​employees. Therefore, this paper aims to contribute towards providing more visibility to the interrelationships between sustainable development, social innovation, social technology and collective entrepreneurship, whose prospects go to building a more humane and integrated development. It has been observed from the literature study that aims to involve social innovation, social technology and collective entrepreneurship, is common and may contribute to the operation of Sustainable Development, therefore, we seek to promote the satisfaction of human needs, the collective integration and the preservation of the environment, together with economic and social development, social equity, employment generation and income.

Keywords: social innovation, collective entrepreneurship, sustainable development.

Introdução

A evolução tecnológica, inovação e empreendedorismo, historicamente, possuem papel-chave na condução do processo de desenvolvimento capitalista. Mas, com a constatação da degradação ambiental e social em todo mundo, chega-se à perspectiva de Desenvolvimento Sustentável, o qual requer mais justiça social e melhoria ambiental.

A perspectiva de Desenvolvimento Sustentável introduz uma necessidade urgente de reformulação dos padrões atuais de desenvolvimento, com metas de redução da pobreza, melhoria ambiental e eqüidade social, com crescimento econômico sustentável (Mebratu, 1998; Hopwood, Mellor & O’brien, 2005).

Para Iyer-Raniga e Treloar (2000), Robinson (2004), Hopwood, Mellor e O’brien (2005) a participação cidadã e a aprendizagem social são instrumentos poderosos para se alcançar o Desenvolvimento Sustentável. Mudanças sociais necessárias para melhorar o bem-estar humano, especialmente entre os mais pobres, requerem esforços coletivos e posições políticas fortes para promover as mudanças sociais necessárias.

Desta forma, os projetos que visam ações para o Desenvolvimento Sustentável, requerem uma abordagem para inovação social, tecnologia social e empreendedorismo coletivo, contemplando um modelo de desenvolvimento com integração econômica, social e ambiental, visando promover a justiça social e a preservação ambiental.

As ações desenvolvidas pelas organizações coletivas são planejadas neste sentido, ou seja, visando a superação da marginalidade, por isso possuem um grande potencial para a geração de tecnologias sociais e inovação social, pois, buscam promover a inclusão social com atividades que geram emprego e renda, organizando produtores e trabalhares urbanos, ampliando o sistema produtivo. Constitui-se, ainda, em um poderoso instrumento de integração social, fortalecendo os trabalhadores para o enfrentamento coletivo dos problemas de natureza social e econômica, viabilizando atividades de produção, de prestação de serviços, de crédito, de comercialização e de consumo, já que nem o Estado e nem as empresas oferecem soluções a essas necessidades, pelo menos no médio prazo.

Considerando o exposto, é possível relacionar a perspectiva da inovação social, da tecnologia social e do empreendedorismo coletivo como efetiva contribuição para a promoção do Desenvolvimento Sustentável, visto que a proposta comum está centrada na idéia de transformação social, de desenvolvimento comunitário sustentável.

Desta forma, o objetivo deste artigo é contribuir no sentido de dar mais visibilidade às interrelações entre o Desenvolvimento Sustentável, inovação social, tecnologia social e empreendedorismo coletivo, cujas perspectivas caminham para a construção de um desenvolvimento mais humano e integrado.

Para atingir o objetivo proposto, o artigo foi organizado em cinco seções: na primeira seção, são apresentadas algumas discussões acerca do Desenvolvimento Sustentável; na segunda seção cabe a discussão referente à inovação social; a terceira seção trata de tecnologia social; na quarta seção desenvolvem-se as ideias relacionadas ao empreendedorismo coletivo; na quinta seção são apresentadas as interrelações entre inovação social, tecnologia social, empreendedorismo coletivo e Desenvolvimento Sustentável; e, por fim, tem-se as considerações finais e as referências que serviram de base para o estudo.

 

1 Desenvolvimento Sustentável

A preocupação com o meio ambiente foi abordada inicialmente, em 1798, por Thomas R. Malthus, um dos primeiros economistas a prever limites para o crescimento ocasionado pelo rápido esgotamento dos recursos naturais e da correspondente destruição do meio ambiente, retomada com maior força por volta da segunda metade do século XX, pelo chamado Clube de Roma, em 1972, alertando sobre o desequilíbrio ecológico causado pela sociedade industrial. Estas preocupações representaram passos importantes para uma mudança de consenso global sobre as práticas do atual modelo de desenvolvimento e para a construção do conceito de Desenvolvimento Sustentável (Mebratu, 1998).

O conceito de Desenvolvimento Sustentável, conhecido mundialmente a partir de 1987, foi definido pela World Comission on Environmental and Development [WCED] como o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades” (WCED, 1987; Mebratu, 1998).

Para Hopwood, Mellor e O'brien (2005), as ideias expressas nesse conceito reconhecem a dependência dos seres humanos sobre o meio ambiente para atender às suas necessidades e bem-estar, em um sentido muito mais amplo do que apenas explorar os recursos, de forma que a ecologia e a economia estão se tornando cada vez mais entrelaçadas em um contexto local, regional, nacional e global. Na opinião de Mebratu (1998), ao definir este conceito, a Comissão sublinha a forte ligação entre redução da pobreza, melhoria ambiental e eqüidade social com crescimento econômico sustentável.

No entanto, para que se possam alcançar meios concretos para a operacionalização dessa nova proposta de desenvolvimento, demandam-se novas formas de pensar e agir, com métodos e práticas de produção que levem em consideração as questões sociais e ambientais.

Neste sentido, Robinson (2004) acrescenta que, não é suficiente um caráter científico ou técnico para a resolução dos graves problemas ambientais e sociais, mas deve estar associado às experiências das comunidades e em parcerias com governos e empresas. O conceito gerou um conjunto de atividades e movimentos focando responsabilidade social corporativa, ecologia industrial, ética ambiental, em direção a um mundo mais sustentável, no entanto, não representa uma resposta suficiente para os desafios do Desenvolvimento Sustentável, mudanças sociais necessárias para melhorar o bem-estar humano, especialmente entre os mais pobres, requerem esforços coletivos e posições políticas fortes para promover as mudanças sociais necessárias. Para Iyer-Raniga e Treloar (2000), a participação cidadã promove o desenvolvimento humano e social.

No tocante à participação cidadão para promover o Desenvolvimento Sustentável, as organizações coletivas, cujos princípios focam a participação, autogestão e a ajuda mútua podem ser consideradas formas viáveis e com potencial para operacionalizar o Desenvolvimento Sustentável. Silva e Lengler (2008) destacam que as atividades desenvolvidas pelas organizações coletivas buscam explicitamente superar a marginalidade em vários planos: econômico, social, político e técnico e por meio da cooperação, estimulam a criatividade e a inovação para o desenvolvimento social.

Iyer-Raniga e Treloar (2000), por exemplo, sustentam que uma orientação coletiva é mais adequada à questão do Desenvolvimento Sustentável. Embora, a aceitação do Desenvolvimento Sustentável seja crescente, esta integração não é algo fácil e depende de como a sociedade encara os desafios do futuro e percebe a sua relação com as outras formas de vida.

Todavia, as inovações sociais, além de promoverem a integração social e produtiva, geram autonomia por meio do emprego e autoemprego, criando meios de subsistência sustentável, buscam, também, construir sujeitos autônomos e conscientes para que possam conduzir suas vidas.

 

2 Inovação social

A história da inovação mostra que muitas inovações tendem a proporcionar efeitos benéficos não só para os inovadores, mas, também, para a comunidade como um todo. No entanto, cada tipo de inovação tem uma característica central com uma área-alvo de atuação.

O Fórum de Inovação Social, promovido pela Organisation de Coopération et de Développement Économiques[OECD] e pelo Programa Local Economic and Employment Development [LEED], ressaltou a característica central da inovação social como sendo a melhoria da qualidade de vida e que as inovações sociais tratam da melhoria do bem-estar dos indivíduos e da comunidade, oferecendo soluções para os problemas individuais e coletivos (OECD, 2000).

Essa característica é enfatizada por diversos autores (Taylor, 1970; Mulgan, Tucker, Rushanara & Sanders, 2006; Harrisson, 2006; André & Abreu, 2006; Rollin & Vicent, 2007; Phills Jr., Deiglmeier & Miller, 2008), pois, conceituam inovação social como sendo atividades e serviços inovadores, que visa e gera mudança social, oferecendo novas soluções para os problemas de caráter econômico e social, a partir do desenvolvimento de novos serviços, que melhoram a qualidade de vida, promovem a inclusão social e o bem-estar do indivíduo e da comunidade.

Ainda, para Mulgan, Tucker, Rushanara e Sanders (2006), a inovação social se difunde predominantemente entre as organizações que têm como primeiro propósito o desenvolvimento social.

Essa concepção ficou muito evidente nos anos 80, momento em que a sociedade civil, organizações não-governamentais e associações desempenharam um papel essencial no desenvolvimento de inovações sociais. Na década de 90, a inovação social foi particularmente estimulada por empresas sociais do setor da Economia Social e Solidária, considerado inovador por sua finalidade social. E, mais recentemente, o conceito de Responsabilidade Social Corporativa reflete a nova tendência das empresas pela inserção de preocupações sociais e ambientais em suas atividades (Rousselle, 2011).

Contribuindo com essa ideia, Gaiger (2007), cita o mapeamento dos Empreendimentos Econômicos Solidários registrados no Brasil, o qual apontou que 87% tiveram início posterior a 1990. Para Maurer e Silva (2011), a emergência de tais empreendimentos pode ocorrer por vários estímulos, dentre eles a busca pela inclusão e reinclusão social e econômica.

Com a intensificação dos estudos, a inovação social ganhou destaque como eixo de pesquisa por alguns centros de pesquisas e Fundações localizadas em diversos países do mundo, como por exemplo: o Centro Ciências da Criatividade, dos Estados Unidos, liderado por Michael D. Mumford, no qual aborda a inovação social como um processo criativo individual para solucionar problemas comuns; o Centro para Inovação Social (CIS), da Stanford Graduate School of Business, que por meio dos programas de Master in Business Administration (MBA), promove a formação de lideres com perfil para ajudar na solução de problemas sociais e desafios relacionados ao meio ambiente; a Fundação de Inovação da Finlândia – SITRA, que atua no desenvolvimento de novas políticas públicas que visem o bem-estar social e econômico dos finlandeses; Fundação Young, entidade sem fins lucrativos, atuando no desenvolvimento de projetos sociais; Centre de Recherche sur les Innovations Sociales (CRISES), do Canadá, desenvolvendo projetos relacionados à geração de emprego e relações de trabalho, às condições de vida e inovações sociais territoriais; e Observatório de Inovação Social da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Brasil, cujos estudos estão direcionados para a transformação de práticas e processos de gestão pública (Maurer, 2011).

Já, no viés empresarial, os estudos apontam a inovação social como complemento da inovação tecnológica, direcionada para questões como gerenciamento do conhecimento, nível de segurança e bem-estar social dos trabalhadores, experiência e educação (Morales Gutiérrez, 2009).

Sintetizando a aplicação social da inovação social, Morales Gutiérrez (2009) e Pol e Ville (2009), mencionam duas concepções: inovação relacionada com a sociedade, cuja ideia está centrada na satisfação de determinadas necessidades da população, ou uma iniciativa original que melhora a eficácia da ação pública e inovação voltada aos negócios, que consiste no lado social da inovação tecnológica, ou seja, a parte que está relacionada com capacidade produtiva, gestão e qualidade do trabalho.

Observa-se, portanto, que os estudos sobre inovação social estão mais direcionados para melhoria do desempenho social e econômico da sociedade, criando novas relações e modificando as já existentes, implementando as dinâmicas coletivas, envolvendo, também, solidariedade, reforçando a cooperação entre os atores. O conceito de inovação social, de acordo com Maurer (2011, p. 172), remete à ideia de “desenvolvimento de soluções inovadoras que visem contemplar as necessidades ou aspirações dos indivíduos de uma determinada sociedade”.

Harrisson (2006) enfatiza que a inovação social traz duas grandes contribuições para a sociedade: 1- solução inovadora para uma situação considerada insatisfatória; e 2- cooperação entre uma variedade de atores que criam conhecimento compartilhado em um processo de aprendizagem mútua. Para André e Abreu (2006), a inovação social proporciona, ainda: 1) a promoção da inclusão social; e 2) a capacitação de atores sociais sujeitos, potencial ou efetivamente, a risco de exclusão/marginalização social, proporcionando uma mudança, mais ou menos intensa, das relações de poder.

Para Phills Jr., Deiglmeier e Miller (2008), o mundo precisa de mais inovação social para resolver os graves problemas existentes, em um processo cooperativo, independentemente se seus atores vêm do mundo dos negócios, do governo, entidades sem fins lucrativos ou sociedade civil, cujos esforços devem estar direcionados no sentido de entender, abraçar e alavancar dinâmica intersectoriais para encontrar novas formas de criar valor social.

A próxima seção trata de tecnologia social. As tecnologias sociais tem se mostrado como uma proposta eficaz na geração de inovações sociais, apresentando soluções para os graves problemas sociais, contribuindo significativamente para a sustentabilidade e para a inclusão social.

 

3 Tecnologia social

Um dos conceitos mais difundidos de tecnologia social é o adotado pela Rede de Tecnologia Social [RTS], onde a “tecnologia social compreende produtos, técnicas e/ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que represente efetivas soluções de transformação social” (RTS, 2011).

O objetivo das tecnologias sociais é o de responder à problemática de desenvolvimento comunitário, promovendo a inclusão social com a geração de renda e de alternativas tecnoprodutivas em cenários socioeconômicos caracterizados, principalmente, por situações de extrema pobreza (Thomas, 2009).

Por esta razão, as tecnologias sociais estão sendo desenvolvidas com claro enfoque na inclusão social, de forma proativa, coletiva, solidária e democrática, cujos resultados refletem em maior fluxo de informações; ambiente cooperativo, ação humana deliberada, participação efetiva da comunidade no planejamento, monitoramento e avaliação, resultando em mudanças na qualidade de vida das pessoas envolvidas (Otterloo, 2010).

De um modo geral, a tecnologia social pode ser diferenciada da tecnologia convencional a partir das características apontadas na Figura 1:

Tecnologia convencional - TC

Tecnologia social - TS

A TC é funcional para a empresa que, no capitalismo, é a responsável por “transformar” conhecimento em bens e serviços;

As organizações e os profissionais que a concebem estão imersos no ambiente social e político que a legitima e demanda;

Os governos dos países centrais apóiam seu desenvolvimento.

Porque trazem consigo seus valores e, por isso, a reproduzem.

Figura 1. O que faz a TC ser diferente da TS

Fonte: Dagnino (2004, p. 9)

 

A partir destas características, Novaes e Dias (2009) concluem que, enquanto a tecnologia convencional capitalista é funcional e voltada para grandes corporações (em especial para as grandes empresas multinacionais), a tecnologia social aponta para a produção coletiva em empreendimentos autogestionários.

Exemplos de tecnologias sociais desenvolvidas em diversas regiões do Brasil são destaques no site da RTS (2012) e no Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil [FBB] (2012), tais como: 1) hortas comunitárias; 2) Projeto Pais – Produção Agroecológica Integrada; 3) bancos comunitários; 4) reciclagem de resíduos sólidos; 5) quintais agroecológicos; 6) complemento alimentar multimistura - largamente utilizado no Brasil, como meio de combate à desnutrição; e 7) o clássico soro caseiro - mistura de água, açúcar e sal, que combate a desidratação e reduz a mortalidade infantil.

Estes exemplos sinalizam o potencial das tecnologias sociais para solucionar os graves problemas sociais e ambientais, favorecendo, principalmente a população em extrema pobreza. Devido aos problemas gerados e a busca por soluções, as reflexões sobre tecnologia e desenvolvimento não estão mais concentradas no campo econômico, lucratividade e competitividade, mas sim na geração de inovações sociais, com objetivo de realização do ser humano, de interação social e qualidade de vida para todos.

 

4 Empreendedorismo coletivo

O empreendedorismo coletivo é definido por Rodrigues e Malo (2006), como o conjunto de atores que participam dos processos de formação das orientações estratégicas da organização com orientação e propriedade coletiva.

Para Schmidt e Dreher (2008), o empreendedorismo coletivo se configura como um importante instrumento para que seja possível o alcance de objetivos e metas das organizações coletivas, por meio da cooperação. Ele permite a socialização do conhecimento e a potencialização dos ativos. Traduz-se em capacidades sociais, as quais, reunidas, formam uma rede social produtiva local.

A partir da atuação de um grupo de pessoas, torna-se possível demarcar bem as necessidades não satisfeitas e inovar propondo produtos e serviços não oferecidos no mercado, assim como, oportunidades de geração de inovação não-tecnológica como inovação nos procedimentos, na estrutura organizacional, marketing, além de ser um ambiente propício à inovação social. Em relação ao risco, esses empreendimentos normalmente oferecem menores riscos que os empreendimentos capitalistas, por serem capazes de mobilizar recursos de um coletivo ou de uma comunidade (Lévesque, 2004).

Desse modo, as organizações coletivas possuem um grande potencial para o desenvolvimento local e para a inovação social, gerando empregos, aumentando a renda e a arrecadação de impostos, organizando os produtores e ampliando o sistema produtivo.

Os empreendimentos de natureza coletiva têm contribuído para o desenvolvimento econômico e social. Como exemplo, pode-se citar o cooperativismo. Segundo o relatório da Organização das Cooperativas Brasileiras [OCB] (2011), os principais ramos de atividades que as cooperativas atuam são: agropecuário, consumo, crédito, educacional especial, habitacional, infraestrutura, mineral, produção, saúde, trabalho, transporte, turismo e lazer. No ano de 2011, elas ofereceram 296.286 empregos, tinham 10.008.835 associados, gerando renda para mais de 10 milhões de pessoas (OCB, 2011).

Outra modalidade de organizações de natureza coletiva são as redes de cooperação. Elas são constituídas com o propósito de reduzir ou superar os problemas enfrentados pelas pequenas e médias empresas. As redes de cooperação podem suprir as necessidades de capacitação de seus associados por meio de treinamentos e de consultorias, pois, possuem melhores condições de identificar fragilidades comuns e encontrar soluções coletivas (Best, 1990).

As redes de cooperação possibilitam o desenvolvimento e aprendizagem de estratégias coletivas de inovação, permitem o acesso a novas tecnologias por meio de seus canais de informação. Outro benefício da cooperação às empresas associadas refere-se ao compartilhamento dos riscos de ações complexas entre todos os participantes, com a divisão dos custos e dos resultados dos esforços coletivos (Ebers, 1997).

Além dos ganhos competitivos que a organização das empresas em redes de cooperação pode oferecer Verschoore e Balestrin (2008) acrescentam outros ganhos como: o aprofundamento das relações entre os indivíduos, o crescimento do sentimento de família e a evolução das relações do grupo, que transcende daquelas puramente econômicas, laços que fortalecem as relações de cooperação e visam à redução de conflitos.

Silva et al. (2004) mencionam que em pesquisas realizadas, as relações de cooperação surgem a partir de necessidades e oportunidades de negócios, com vistas ao compartilhamento de tecnologias e ativos específicos, redução de custos e melhoria dos seus padrões de competitividade, de forma que a soma de esforço proporcione benefícios comuns e favoreça a permanência da organização no mercado.

No contexto das redes, identificam-se, também, as redes de cooperação no âmbito da Economia Solidária. Estas são organizações sociais que atuam na geração de renda, integração e inclusão social, em um novo sistema de produção, consumo e distribuição dos ganhos, oferecendo aos seus integrantes oportunidades de trabalho e mais qualidade de vida. A colaboração solidária significa trabalho e consumo compartilhado, principalmente dos membros inseridos na rede de cooperação solidária, cujo vínculo ocorre de forma recíproca entre as pessoas e advém de um sentido moral de corresponsabilidade, pelo bem-viver coletivo e de cada um em particular (Mance, 1999).

Os benefícios gerados pelas organizações de natureza coletiva por meio do princípio da cooperação alcançam diversas pessoas e a comunidade local onde estão inseridas. Geração de renda, manutenção e geração de postos de trabalho, fortalecimento da economia local, aumento do nível de arrecadação de impostos, que podem ser revertidos em prol de uma melhor qualidade de vida.

5 As interrelações entre Desenvolvimento Sustentável, inovação social, tecnologia social e empreendedorismo coletivo

 

Considerando o exposto, é possível relacionar os conceitos de inovação social, tecnologia social, empreendedorismo coletivo com a perspectiva de Desenvolvimento Sustentável, pois, a proposta comum está centrada na idéia de transformação social, de satisfação das necessidades humanas, de desenvolvimento comunitário sustentável, onde as necessidades são mais urgentes, conforme pode ser observado na Figura 2.

Relação entre:

Pressupostos básicos comuns

 

Desenvolvimento Sustentável

Inovação social

Tecnologia social

Empreendedorismo coletivo

 

  • Satisfazer as necessidades humanas; participação igualitária nos recursos;

  • Integração coletiva; preservação ambiental simultaneamente com desenvolvimento econômico, social e político-institucional; ideia de equidade social;

  • Fortalecimento empreendimentos coletivos; geração de emprego; distribuição dos recursos;

  • Novas maneiras de fazer as coisas com o propósito explícito de responder às necessidades sociais;

  • Transformação social;

  • Visa sustentabilidade econômica, social e ambiental;

  • Promoção do bem-estar.

Figura 2. Pressupostos básicos comuns entre Desenvolvimento Sustentável, inovação social, tecnologia social e empreendedorismo coletivo.

Fonte: Oliveira e Silva (2012).

 

Considerações finais

O objetivo deste artigo foi de contribuir no sentido de dar mais visibilidade às interrelações entre o Desenvolvimento Sustentável, inovação social, tecnologia social e empreendedorismo coletivo, cujas perspectivas caminham para a construção de um desenvolvimento mais humano e integrado.

Observa-se, a partir da literatura estudada que os objetivos que envolvem inovação social, tecnologia social e empreendedorismo coletivo, são comuns e podem contribuir com a operacionalização do Desenvolvimento Sustentável, pois, buscam promover a satisfação das necessidades humanas, a integração coletiva, preservação ambiental, simultaneamente com desenvolvimento econômico e social, equidade social, geração de emprego e renda.

A perspectiva do empreendedorismo coletivo visa à mobilização democrática, participativa e produtiva, fortalecendo a interrelação entre Desenvolvimento Sustentável, inovação social, tecnologias sociais. Essa interrelação se dá pela afinidade de seus pressupostos, objetivos e metas que são comuns.

A construção de sujeitos com autonomia e com espírito de empreendedor coletivo é o diferencial almejado nesta nova perspectiva de Desenvolvimento Sustentável, que pense diferente de tudo que já foi implementado, de empreendedor individual para o coletivo, da competitividade para a cooperação, do egoísmo para a equidade, da destruição para a preservação.

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World Comission on Environmental and Development) (1987). Our Common Future.

Oxford: Oxford University Press.

 

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Prof. Ivan Oliveira

Tem formação acadêmica em Telecomunicações na Escola Técnica Federal do Ceará (ETFCE), graduação em Engenharia Elétrica com ênfase em Teleinformática pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestrado em Comunicações Móveis pelo Politécnico de Turim e também mestrado em Teleinformática pelo Departamento de Teleinformática (DETI).

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