Sábado, 28 Outubro 2017 11:07

A covardia é a mãe da crueldade

Escrito por
Avalie este item
(0 votos)
Em tempos tão estranhos e sombrios, o medo tem sido senhor dos afetos desta sociedade ultra conectada, assanhada e imediatista.
 
É muita gente covarde produzindo raiva com pautas estritamente morais para criar uma cortina de fumaça a fim de esconder os verdadeiros problemas da democracia brasileira.
 
O time é eclético de Jaspion mirim a ator falido, humorista sem noção, roqueiro tapado e outros vetores de ódio e intolerância.
 
Que saudade das palavras de Cazuza, como ele dizia: só a piedade é remédio para essa gente careta e covarde.
 
Em se falando de covardia, a filha do medo e a neta da raiva - um trocadilho de um trecho de umas das novas canções de Chico Buarque, tem sido um instrumental recorrente desta moçada moralista.
 
Chico Buarque mais uma vez traduz em poesia-cantada este momento e nos presenteia com a música “As Caravanas”, talvez a melhor canção  desde a “Construção”.
 
A letra trata exatamente o retrato do Brasil racista e acomodado à histórica violência social, que apoia a exclusão dos pretos de suas praias chiques (vide a realidade do povo das comunidades cariocas), quanto dos refugiados que buscam um porto mundo afora (pauta constante dos hipócritas contra a lei de imigração). 
 
''Não há barreira que retenha/ Esses estranhos/ Jovens tipo muçulmanos (...) / Com negros torsos nus deixam/ Em polvorosa/ A gente ordeira e virtuosa que apela/ Pra polícia despachar de volta/ O populacho pra favela (...)'', canta ele. Certeiro, dispara: ''Tem que bater, tem que matar/ Engrossa a gritaria/ Filha do medo, a raiva é mãe da covardia''. 
 
Link da música: https://youtu.be/6TtjniGQqAc
 
Link da letra recitada: https://youtu.be/KB3Q1PEveM0
 
A covardia é a mãe da crueldade, como bem dizia Michel de Montaigne; ela cega e só faz ouvir o que interessa ... como era cantada em uma das canções da jovem guarda.
 
Fica aqui uma reflexão sobre este vício - a covardia - visto como a corrupção da prudência e oposto a toda coragem e bravura.
 
Por fim, escolho a pintura "O grito", do norueguês Edvard Munch, como representação do medo, da angústia e do desespero existencial típica dos raivosos encontrados nas redes sociais, mas já transbordados da timeline. 
 
Prof. Ivan Oliveira
Ler 679 vezes Última modificação em Segunda, 25 Dezembro 2017 11:10
Prof. Ivan Oliveira

Tem formação acadêmica em Telecomunicações na Escola Técnica Federal do Ceará (ETFCE), graduação em Engenharia Elétrica com ênfase em Teleinformática pela Universidade Federal do Ceará (UFC), mestrado em Comunicações Móveis pelo Politécnico de Turim e também mestrado em Teleinformática pelo Departamento de Teleinformática (DETI).

www.ivanoliveira.org
Entre para postar comentários