Chico Buarque mais uma vez traduz em poesia-cantada este momento e nos presenteia com a música “As Caravanas”, talvez a melhor canção desde a “Construção”.
A letra trata exatamente o retrato do Brasil racista e acomodado à histórica violência social, que apoia a exclusão dos pretos de suas praias chiques (vide a realidade do povo das comunidades cariocas), quanto dos refugiados que buscam um porto mundo afora (pauta constante dos hipócritas contra a lei de imigração).
''Não há barreira que retenha/ Esses estranhos/ Jovens tipo muçulmanos (...) / Com negros torsos nus deixam/ Em polvorosa/ A gente ordeira e virtuosa que apela/ Pra polícia despachar de volta/ O populacho pra favela (...)'', canta ele. Certeiro, dispara: ''Tem que bater, tem que matar/ Engrossa a gritaria/ Filha do medo, a raiva é mãe da covardia''.
Link da música: https://youtu.be/6TtjniGQqAc
Link da letra recitada: https://youtu.be/KB3Q1PEveM0
A covardia é a mãe da crueldade, como bem dizia Michel de Montaigne; ela cega e só faz ouvir o que interessa ... como era cantada em uma das canções da jovem guarda.
Fica aqui uma reflexão sobre este vício - a covardia - visto como a corrupção da prudência e oposto a toda coragem e bravura.
Por fim, escolho a pintura "O grito", do norueguês Edvard Munch, como representação do medo, da angústia e do desespero existencial típica dos raivosos encontrados nas redes sociais, mas já transbordados da timeline.
Prof. Ivan Oliveira